Quando eu visitei o salão das duas rodas o stand de zero Motorcycles me chamou a atenção. La estavam expostas alguns modelos das motocicletas elétricas que eles fabricam. O design era bem arrojado, estilo trail ou motard conforme o modelo. Aquilo foi uma surpresa, pois até então as motos elétricas que eu já tinha visto na rua pareciam o cruzamento de uma Mobylete com um cortador de gramas à pilha. Foi então que eu resolvi fazer uma matéria exclusiva sobre motos elétricas para o Moto Metrópole.
Atualmente existem vários fabricantes, inclusive de motos convencionais produzindo motos elétricas. Todos são unânimes em afirmar que as motos elétricas são mais econômicas e poluem muito menos que as convencionais.
As diferenças principais entre as motos convencionais e as elétricas são as seguintes. Ao invés de utilizarem um motor de combustão interna e um tanque de combustível, as motos elétricas utilizam um moto elétrico e uma ou mais baterias, dependendo do projeto. Aqui reside uma das principais limitações das elétricas que são a velocidade e a autonomia. Enquanto uma moto a gasolina de 400 cilindradas pode chegar facilmente aos 140 km/h e ter uma autonomia de mais de 300 km, uma elétrica de performance semelhante alcança no máximo 100 km/h e tem uma autonomia de 100 km.
Essas limitações em breve deverão ser superadas e as elétricas alcançarão a performance das motos convencionais. Diferente dos carros aonde a tecnologia ainda tem que evoluir muito para se tornar viável, nas motos já existem empresas que estão apostando nessa tecnologia e lançando modelos no mercado já faz algum tempo.
Um dos maiores problemas são as baterias. As de chumbo são muito pesadas e apresentam um desempenho bem fraco se comparadas às baterias mais modernas, como as de NiMH ou as de Li-Ion (íons de Lítio), mas já é um começo.
A marca que mais se destaca atualmente neste segmento é a Kasinski. Pertencente ao grupo sino-brasileiro CR Zongshen, a empresa já comercializa o scooter elétrico Prima Electra há mais de um ano no Brasil.
O Prima é capaz de atingir uma velocidade máxima de 60 km/h e custa R$ 5,3 mil. De acordo com a Kasinski, o usuário gasta, em média, R$ 1,10 para rodar 50 km. Utilizando a mesma base mecânica, a Win ElétriKa possui uma autonomia de 80 km e custa R$ 4,9 mil. Contudo, ao contrário do Prima, esta novidade é do segmento cub. Para complementar sua linha de elétricos, a CR Zongshen lançou uma nova marca de bicicletas elétricas com o nome de Velle, que significa “Veículos Elétricos Leves”.
A grande dificuldade das motos elétricas é ter o comportamento de uma moto tradicional para enfrentar, entre outras coisa, o ritmo acelerado das cidades. É com este desafio que a Zero Motorcycles chega ao Brasil. De acordo com o Grupo Izzo, representante da marca americana no Brasil, as Zero têm performance de motos movidas a combustível.
Segundo o fabricante, as Zero são motos para os centros urbanos. Além de obter uma velocidade ideal para as cidades, a sensação que transmitem é igual à de uma moto tradicional, com exceção da falta de barulho. Dois modelos da moto já estão sendo vendidos no Brasil, a Zero S e Zero DS, que custam, respectivamente, R$ 31,9 mil e R$ 34,9 mil.
Os dois modelos são similares e a principal diferença é o fato de a DS ter rodas maiores e uma suspensão com curso mais longo, ou seja, mais adaptada a enfrentar as irregularidades do solo. De acordo com a marca, as motocicletas podem alcançar até 106 km/h e a autonomia é de 70 a 80 km, isso em um uso normal na cidade. A bateria de células de lítio é 100% reciclável e dura cerca de cinco anos.
Segundo testes feito pela Zero no Brasil, o usuário gasta, em média, R$ 20 para rodar 550 km com a moto.
A Zero está desenvolvendo uma moto esportiva para competir na TTXGP, categoria essa criada em 2009 exclusivamente para motos elétricas e que corre em diversos circuitos pelo mundo, inclusive na tradicional Ilha de Mas. A moto impressiona pelo desempenho e pela durabilidade da bateria. O desempenho se equivale a uma moto de uns 60 cavalos. A moto acelerou forte por 11 voltas no circuito de Infineon, na Califórnia. Como a pista tem 4.06 km, a moto andou 44,66 km a toda velocidade, e ainda sobrou carga no final da corrida!
A maior dificuldade em popularizar os veículos elétricos é justamente a tecnologia das baterias. Existem muitas, e as melhores atualmente são as de Li-Íon e Li-Polímero. Ambas são leves e apresentam a maior capacidade de carga, mas ainda é pouco para fazer um veículo elétrico que substitua um a combustão. No mundo automotivo, o problema se agrava ainda mais, pois a maior parte da energia gasta pelos motores é “desperdiçada” para movimentar a pesada carcaça dos carros. Nas motos, o problema é bem mais fácil de solucionar, mas ainda está longe do ideal. Pesquisadores já possuem alguns modelos de baterias experimentais, que são mais leves e carregam de 2 a 8 vezes mais energia do que as baterias atuais, mas ainda é cedo para dizer quando essas baterias estarão no mercado.
Enquanto isso não acontece, outra solução são os modelos híbridos como o Piaggio MP3 Hybrid que parece ser uma solução interessante, e que alia um motor elétrico a um a combustão, permitindo o uso em modo 100% elétrico e, quando a bateria acabar, usar um motor a gasolina de 125cc para terminar o trajeto.
A Vectrix VX-1 é um Scooter maior, equipado com um motor de 21.000 Watts (equivalente a 26.2 cv) e baterias de Níquel Metal (NiMH), a Moto chega a 100 km/h e tem 100 km de autonomia, tudo isso com uma carga que demora menos de 4 horas.
A Vectrix Maxscooter foi lançada em Milão em Novembro de 2006 e sua produção, ainda pequena, está crescendo. Há várias rodando na Europa e nos Estados Unidos. Ela tem desempenho equivalente a um scooter a gasolina de 400cc, tanto em termos de aceleração quanto de velocidade, segundo o site do fabricante. Mas não faz nenhum ruído e seu combustível elétrico custa cerca de 10% o custo do tradicional combustível fóssil.
Nos Estados Unidos ela custa US$11,800 sendo que na Califórnia o governo dá US$1,500 de bônus se você comprá-la, por conta de seu benefício ambiental. Na Europa custa cerca de onze mil euros. Não é barata. Mas é uma alternativa para entrar no mundo dos motores elétricos com desempenho esportivo sem gastar o preço de um Tesla Roadster, do qual, dizem, só as baterias já custam US$ 20,000.
A Vectrix foi fundada em 1996 e é presidida por Carlo Di Biagio, ex-presidente da Ducati Motor Holding, S.p.A. Certamente ele entende de motos. A Vectrix Maxscooter, é o primeiro produto da companhia. A empresa investiu US$ 25 milhões desde que foi fundada, e possui centenas de patentes.
Parece que dirigir uma destas scooter é uma grande experiência. Para quem está acostumado como motos normais existem algumas diferenças. A moto possui marcha-ré, algo raro em motos a combustão. Ao invés de usar discos de freio ela usa um freio eletromagnético, um sistema regenerativo que recarrega as baterias quando se diminui a velocidade. Ou seja, não é preciso tirar a mão (ou os dedos) do acelerador e usar a alavanca de freio das motos comuns — tudo é feito no girar do pulso. Além disso as baterias ficam sob o banco e fazem com que o centro de gravidade da moto seja bastante baixo, o que aumenta a estabilidade e faz a direção ficar suave. Os assentos são largos e confortáveis.
De acordo com o site do fabricante ela está disponível por enquanto nos seguintes países: Austrália, Estados Unidos, Espanha, Itália, Suíça, Irlanda e Reino Unido. Ela pode ser recarregada (a 80% da carga) em duas horas.
Mas nem todo mundo resolveu embarcar na onda das motos Elétricas.
Segundo o UOL ECONOMIA, a Honda, o maior fabricante de motos do país, não planeja produzir modelos elétricos e segue apostando no bicombustível como tendência de mercado. Os motores flex - aqueles que funcionam tanto a gasolina quanto a etanol - já respondem por mais da metade da fabricação de motocicletas no complexo industrial da Honda em Manaus (AM), cuja produção para este ano é estimada em 1,65 milhão de unidades.
Segundo um executivo da Honda, atualmente a tendência da maioria dos fabricantes de motocicletas é para o desenvolvimento da tecnologia Flex.
Apesar da entrada de alguns concorrentes no segmento de motos elétricas, a Honda não trabalha no momento a possibilidade de produzir ou importar esse tipo de veículo no Brasil. Para a Honda, o grande problema das motos elétricas é que a autonomia das baterias - de 80 quilômetros - não atende às necessidades dos brasileiros de percorrer distâncias mais longas.
Segundo eles, o motociclista brasileiro - sobretudo em regiões de menor densidade demográfica e grandes vazios urbanos - costuma percorrer rotas mais extensas se comparado ao perfil do consumidor de motocicletas no sul e sudeste asiático - em países como Índia e Indonésia, onde as motos também são muito usadas.
A Honda acrescentou que melhorar a autonomia das baterias e encontrar maneiras sustentáveis de fazer seu descarte são desafios que precisarão ser enfrentados pelos fabricantes de motos elétricas. A tendência é que o uso das motos elétricas fique mais reservado a locais restritos, como condomínios residências. A Honda, que tem quase 80% do mercado duas rodas e produz motocicletas com a tecnologia flex desde 2009.
Pra finalizar. O aquecimento global e a escassez de combustíveis fósseis para as próximas décadas é praticamente uma certeza. E isso vai afetar a maneira como nós usamos os veículos como meio de transporte individual. O futuro da motocicleta, assim como o dos automóveis, vai estar relacionado com algum tipo de fonte de energia limpa e renovável
O uso do álcool combustível, em curto prazo, é a tecnologia mais viável e barata como fonte de energia renovável. Mas isso nos coloca a mercê de grupos econômicos que não são confiáveis pra fornecer etanol quando o açúcar sofre alta no mercado internacional. Outro risco é o de encolhimento da produção de alimentos caso a lavoura da cana se torne muito mais rentável na hipótese de uma alta demanda do produto em todo o planeta.
Mesmo o uso de motos elétricas causa algum impacto no meio ambiente, pois a eletricidade que usamos para carregar as baterias provem de hidrelétricas cuja construção causa impactos drásticos no meio ambiente, de termoelétricas movidas a carvão que é um grande poluidor ou de centrais nucleares cujos riscos também são amplamente conhecidos.
De qualquer maneira, esses são desafios que a nossa geração, bem como as que ainda virão, vão ter de enfrentar.
Quem viver, verá...
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